O Movimento do Grafite em Macapá


Por Fernanda Lima
grafite é uma arte urbana que vem ganhando espaço na cidade de Macapá. Muros e espaços públicos estão obtendo cores e uma estética visual que vai além de desenhos. Mas claro que o grafite não é apenas embelezamento visual, é um movimento artístico que expressa vários temas relacionados à opressão que a humanidade vive, principalmente os menos favorecidos, ou seja, reflete a realidade das ruas. Além da mensagem social, também é uma forma de grafiteiros ganharem dinheiro, passando de hobby para uma profissão. 
As polêmicas enraizadas sobre o movimento geram opiniões contraditórias, sendo a arte do grafite confundida com vandalismo, pichação (ato de escrever ou rabiscar em locais e espaços não autorizados), poluição visual, atos marginalizados que passam por uma conduta imoral e proibida por lei. 
Silvia Marques é professora de artes visuais da Universidade Federal do Amapá e tem como objeto de estudo as ações urbanas em geralEla explica que os artistas que praticam o grafite não agem apenas para mostrar uma composição artística, mas também para provocar reflexões e passar alguma mensagem. Segundo a professora, esse tipo de arte ainda é visto como poluição visual e até mesmo como ação criminosa. 
Esse tipo de prática está ligado a várias ações artísticas como o lambe (pôster artístico de tamanho variado colado em espaços públicos)street arte (manifestações artísticas em espaços públicos) e, em especial, o hip-hop (gênero musical que mistura funk e rap)Para os membros deste movimento, o grafite é a forma de expressar a relação do indivíduo com a cidade.  
A professora Silvia Marques ressalta a importância dessa vivência “O grafite é uma das ações urbanas. Como as pessoas associam-no a uma poluição visual? Para elas se essa arte contemplar a visualidade do que é belo, consequentemente vai deixar que o mesmo seja apreciadocaso não agrade, não é posto como contemplação e apreciação visual. Mas essa prática quando é feita, as pessoas se deparam com aquela ação e começam a ter uma relação diferente com a cidade, elas param e se preocupam em opinar se aquilo é belo, portanto não passa despercebido. 
O movimento foi tema da famosa música denominada Gentileza da cantora Marisa Monte, lançado no ano de 2000 no álbum Memórias, Crônicas e Declarações de Amor. A música faz uma crítica sobre a arte urbana apagada no Viaduto do Caju na cidade do Rio de Janeiro, levando a cantora a dialogar com uma ONG que com sua parceria, conseguiu preservá-lasA canção traz os versos Apagaram tudo / Pintaram tudo de cinza / Só ficou no muro tristeza e tinta fresca. E reflete uma cidade com uma única cor, a cor do asfalto, a cor do cimento, a cor cinza, paredes com panfletos de shows, propaganda política das mais diversas áreas da publicidade. E tem coisa mais sem graça do que essas cores? É possível ver nas ruas de Macapá paredes sem cores, com cartazes deteriorados com o tempo que já não fazem sentido estarem lá.  
Os desenhos do grafite nos trazem uma crítica social. Na cidade de Macapá, essa modalidade ainda está em crescimento, é perceptível as artes em praças públicas como na Floriano Peixoto e Barão do Rio Branco, em cafeteiras, bares e até na própria Universidade Federal do AmapáEm especial na Praça da Bandeira onde se concentram a maioria dos eventos underground da cidade como o Liberdade ao RockBatalha da Bandeira e Grito Rock, a praça é cheia de pichações, paredes que gritam “Fora Temer!” em meio aos eventos de rock e hip hop, movimentos que relatam o sentimento realista de protesto em forma de música. É nesses locais que a arte urbana surge sendo mais uma forma de expressar o sentimento das pessoas. 
Em Macapá, o número de grupos de grafiteiros é pequeno, no entanto expressam a ideia do movimento do grafiteartista Ramones é acadêmico de artes visuaispara ele até o mercado de tintas de spray especializada para o grafite não era comercializada na cidade, ele tinha que fazer gambiarras para o traço do spray sair finoEle relata que vem grafitando desde 2013, e que atualmente o número de pessoas interessadas nessa modalidade de arte está crescendo e que resulta no mercado local comercializando tintas e spray próprios para desenho em muro. 
  
Ramones relata que a criação do grafite requer tempo. Foto: Fernanda Lima 

Ele explica, que esse tipo de arte urbana entrou na sua vida inicialmente como forma de aperfeiçoar os traços em seus desenhos, logo depois, os trabalhos com o grafite começaram a surgir, “Quando grafitava nas ruas, as pessoas me paravam para querer o meu contato e realizar trabalhos em outros locais. Fui ganhando dinheiro com isso, para mim hoje é uma fonte de renda. Também faço ilustrações e tatuagem, mas tudo passa pelo desenho que vem com o grafite”, afirma. 
Eder Pimenta é criador do índio Curumim. Foto: Fernanda Lima
Caixa de TextoEncontrar o hobby através da arte é comum, foi o que ocorreu com o Eder Pimenta estudante de artes visuais da Universidade Federal do Amapá. Ele teve o primeiro contato com o grafite em 2014 em São Paulo, sua relação com o essa prática é um tipo de prazer pessoal, muitas vezes as pessoas não sabem diferenciar a pichação de outros estilos da arte urbana.  
O artista Eder Pimenta comenta a reação das pessoas ao ver seu trabalho nas ruas da cidade: O olhar das pessoas é importante, pois cria uma relação pessoal comigo, uns veem pelo lado estético outros pelo lado social, é legal que elas veem que o grafite não está sujando a cidade. Algumas pessoas ao me verem grafitando na rua pedem meu número para trabalhar em outros locais com esse tipo de arte”. 
O contato com a cidade também caracteriza a sensibilidade do indivíduo no meio que ele vive. O grafite dá voz a cultura local do Amapá. No caso de Eder Pimenta um dos temas preferidos é a cultura indígena. Para ele, o Curumim que significa “criança” na língua tupi-guarani (engloba várias línguas indígenas)é uma inspiração e personagem sugere algo além do significado da palavra:  
Dentro da construção desse personagem há subjetividade, é uma representação diversa da cultura daqui do Estado, na forma de quando eu retrato um nariz, um jeito no desenho. Quando eu faço o meu personagem, o Curumim, sou eu e você, são todas as pessoas amapaenses. A arte em si ela é importante para dentro da cultura do Estado, principalmente em Macapá. 
 
O personagem Curumim é a identidade artística de Eder Pimenta. Arte localizada em frente ao restaurante universitário da UNIFAP. Foto: Fernanda Lima 

Catraia

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário