Por: Ana Paula Vilhena
O luxo, antigamente, valorizava a qualidade e durabilidade de um produto, se tornava luxuoso quando possuía características únicas, com riscos, manchas, customizações e etc. Atualmente valorizar a experiência que temos com esse produto também é importante. Isso se espelha com o movimento Slow Fashion, que valoriza a qualidade dos tecidos de roupas e afins, a durabilidade de materiais, o consumo lento onde é valorizado a mão de obra sem agredir o meio ambiente.
A Moda é, afinal, um sistema que engloba os poderosos veículos de comunicação, tocam todas as pessoas do planeta, movimentando grande parte da economia mundial. A moda é versátil, muda de acordo com as estações e mais que isso é o reflexo social, pois contam histórias, fatos que mudaram o mundo, que marcaram tempos. Por séculos, a moda foi utilizada como instrumento de distinção socioeconômico. De grandessíssimas linhas usava os nobres, autarquias, burgueses, vanguardistas e mesmo os hippies. Os conceitos de perfis de grupos e de distinções de outros grupos continua ainda atualmente.
Em entrevista com Sarah Aranha, dona de um brechó Amapaense, artesã, escritora e professora de Inglês, ela retrata a importância dos brechós e como ingressou nesse meio e seu gosto por moda.
– Moda é ser livre, usar o que gosta, é construir uma identidade própria e única, se amar e se aceitar. Com minhas roupas tento passar o que sou, e acredito que sou uma pessoa criativa e ousada, gosto do colorido, não tenho medo de usar e abusar de coisas que chamem atenção. Hoje me importo mais com a minha opinião, do que os olhares que me cercam. Gosto das misturar estampas e acessórios e ver a harmonia que causa em mim.
Comecei a consumir e vender roupas de brechó em um momento em que estava desempregada. Vejo o brechó como um desapego, é saber passar adiante o que já te fez feliz por um período de tempo, e saber fazer outra pessoa feliz com o seu desapego.
O meu público é alternativo, vendo de tudo, e recebo todo tipo de mulher. Por eu ser uma mulher gorda, costumo vender roupas para pessoas também curvinhas. Adoram minhas saias. O consumo dessas roupas é grande, pois o preço é bem acessível. Posso assim comprar 10 blusas de segunda mão no valor de uma em lojas de departamento. Além, claro, que o brechó possui peças únicas, antigas e lindas.
Mas voltando a falar dos brechós amapaenses que estão movimentando as praças locais, se fazendo presentes em eventos, construindo personalidades e claro, fazendo parte do luxo passado. Ajudando autônomos como ambulantes e artesãos, músicos, levando entretenimento a espaços locais e claro, aqueles que vivem de vendas de roupas de segunda mão.
Consumir roupas de brechó vão muito além de simplesmente ser preço de banana ou mesmo comprar uma roupa exclusiva, que talvez não seja mais produzida, ou podendo ser de outro país. Comprar roupas de segunda mão ajuda amenizar danos causados ao meio ambiente por indústrias Fast Fashion , que são compostas por uma produção rápida, muitas vezes sem qualidade, podendo descosturar fácil, com durabilidade mínima, sendo descartadas rapidamente.
Lorrana Assunção, Pedagoga e mestrando em Educação fala como é sua experiência como consumidora de brechó.
– A moda para mim é saber se expressar todos os dias nos espaços em qual atuamos. Passei por um processo de desconstrução para hoje eu poder vestir o que gosto e me sentir bem comigo mesma. Antes de fazer isso, eu costumava usar roupas lisas, que escondiam minhas curvas, roupas largas, neutras, ditas formais pela sociedade. Após começar a me questionar se gostava mesmo dessas roupas, ou se me valorizavam, resolvi experimentar outros estilos e me identificando com roupas mais alternativas, com estampas, cores vivas e afins. Comprei a primeira vez em um brechó através de uma amiga que me levou para conhecer esse mundo. Acabei gostando do que via, e principalmente pelo preço acessível, que me fez repaginar meu guarda roupas com looks de segunda mão. Ainda consumo roupas de lojas, mas, hoje, entendo a importante que tem esses brechós de feiras e etc.
Sabe que um dia me esforcei ao máximo para caber em um padrão exposto pela sociedade e sabe mais ainda que meu biotipo não convém com esse estilo de vida foi sem dúvidas libertador. Me sinto bem comigo mesma, e expresso isso todos os dias, e sempre que possível repasse isso para outras mulheres que estão ao meu redor. Gostaria de atenuar que ser mulher amapaense não é fácil, usar roupas grossas no calor que vivemos é prejudicial a saúde das “Manas”. A nossa moda não é essa!
Claudia Soria, professora de Comunicação Social e doutorando em comunicação. Reforça dizendo que os brechós também são meios que movimentam a economia, uma vez que o Slogan “Menos é mais” ganha uma nova dimensão falando sobre utilizar melhor o que tem, as combinações que podem ser feitas por uma peça básica, sabendo transformar uma roupa em várias, ganha uma elegância, uma reutilização. Ajuda o meio ambiente, pois uma peça de tecido demora séculos para se desfazer. O próprio algodão demora muito. Tudo isso e uma forma de valorização dos meios de segunda mão. Moda é mais do que ser fútil e combinações, a gente também entende o outro como um ser. Nas roupas que a gente desenha, a gente quer sempre mostrar para o outro algum significado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário