Somos todos amigos... Até a polícia chegar

Jomar Junior


Na noite do dia 15 de junho, eu estava esperando sozinho o ônibus para ir embora da Unifap para o meu bairro. Em plena sexta-feira e eu, sem um centavo, já andava de cabeça baixa procurando dinheiro perdido, depois de esperar quase 30 minutos, enfim, chegou meu ônibus. Uma senhora gorducha me empurrou para ser a primeira a entrar, como se isso fizesse alguma diferença, já que não havia ninguém no ônibus. Ao entrar, cumprimentei o motorista e o cobrador, passei pela senhora gordinha e sentei no fim do ônibus, onde estava mais vazio.
Nas três primeiras paradas, o fluxo da procissão de empurrões para entrar no ônibus ainda estava fraco para aquela linha. No centro da cidade, entrou um grupo de rapazes com uniformes de uma faculdade, um alto cheio de espinhas , outro parecia o “Sid” da Era do Gelo e o outro fazia uma cara de quem comeu e não gostou, outro jovem se postou perto desses rapazes, diferente deles, ele se vestia como um jovem periférico, boné escrito Nike, que cobria o cabelo descolorido , uma camisa de bloco de carnaval e uma bermuda laranja neon, que contrastava com a pele escura dele.
A viagem continuou como de costume, aquele sobe e desce de gente, empurrões, calor e todas as maravilhas que o transporte público nos oferece, o rapaz da periferia conversava com o grupo de universitários como se eles fossem vizinhos de bairro, tudo ia bem até que o motorista parou na frente do Ciosp e o cobrador desceu correndo, todo mundo curioso no ônibus, “o que aconteceu?”, “roubaram alguém?”, “por que parou o ônibus?”.
Depois de uns 5 minutos, o cobrador voltou correndo, acompanhado de um delegado e quatro policiais, o delegado era careca e já entrou no ônibus com uma arma em punho, o grupo de universitários continuava conversando com o rapaz, mas tudo mudou quando o delegado chegou perto deles, o cobrador gritou: “é esse de short laranja”, todos calados, eu presenciando aquilo, o delegado deu uma coronhada e mandou o rapaz descer, gritando ofensas.
Ele foi revistado, levado para dentro do Ciosp e o ônibus seguiu sua rota, do fundo do ônibus, alguém do grupo de rapazes gritou “eu sabia que era ele, ele perguntou por que o ônibus tinha parado no Ciosp”. Aquilo me fez pensar em outras situações como aquela que eu já tinha presenciado, tu podes conhecer a pessoa há anos, mas, se a policia aparecer, você fica com amnésia na hora, se borra todo de medo atua melhor que a Fernanda Montenegro nas novelas da Globo. Todo mundo é amigo... até a polícia aparecer como uma arma na mão.

Catraia

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